Psicanálise da nossa vida

Livro em construção

A Psicanálise é complexa. Para alguns, um mistério absoluto. É um saber grande o suficiente para ser caçoado pelos humildes leigos, mas tão maravilhosamente sedutor para permanecer defendido pelos técnicos.

O que é a Psicanálise?

A Psicanálise é um saber que anuncia a existência de uma vida paralela e independente. Se existiu uma Psicanálise é porque fundou o inconsciente autônomo e soberano. Antes dela, o inconsciente era aquilo que estava atrás da consciência, mas dependente e submisso. A psicanálise subverte e inverte a ordem, dizendo que nossa mente é influenciada por processos que não temos conhecimento e controle. A psicanálise é também um modelo de saber do homem que procura dar conta da grande diversidade subjetiva.

Na construção do saber analítico, foram definidos inúmeros conceitos complexos e de difícil exemplificação. Freud reiterou diversas vezes as limitações do ensino teórico, afirmando categoricamente que a Psicanálise tem que ser aprendida através do método terapêutico.

Minha proposta é desafiadora porque traz o desejo de um ensino teórico com paralelos em nossa vida comum, um lugar onde esse saber possa produzir simplicidade, conveniência e acessibilidade. Pensando em como traçar este caminho, tomei a decisão de não utilizar nenhum conceito teórico. Deste modo, não falaremos em castração, édipo, pulsão, objeto a, nem qualquer outro conceito utilizado por este saber. Desejo que o leitor se interesse pela Psicanálise, desperte a vontade de conhecer mais a fundo, mesmo sabendo que em muitas situações, isso não será possível.

Visando estabelecer uma conexão da psicanálise com a vida comum, ficamos distantes de uma maior profundeza e rigor metodológicos que o campo científico nos exige, porém poderemos nos enveredar no caminho livre das reflexões, um exercício de introdução, que visa facilitar a leitura deste saber, por pessoas de diferentes formações e graus de conhecimento.

O que a Psicanálise estuda? O objeto da Psicanálise é a linguagem. Partimos do princípio que todos nós humanos somos constituídos de linguagem. A linguagem está por trás de nossas alegrias, da maneira que olhamos para o mundo, mas essencialmente é a raiz de nossas angústias e tristezas. É pela linguagem que podemos formular perguntas capazes de encontrar um sentido para a vida: por que temos tanta dificuldade de explicar nossos sofrimentos? Por que não conseguimos fazer aquilo que sabemos ser preciso? Por que fazemos as coisas que nos fazem mal? Como é que alguns conseguem encontrar forças e instrumentos suficientes para construir suas vidas com satisfação, enquanto outros parecem derrapar e nunca encontrar um caminho? Como é que construímos aquilo que percebemos de nós mesmos na vida adulta, considerando que nascemos sem nenhum conhecimento, nem tão pouco sabíamos o que fazer? Como chegamos até aqui?

A Psicanálise, em mais de 100 anos de sua história, respondeu e ainda continuará respondendo nossas principais interrogações, mas acima de tudo, trava uma luta diária na prática clínica, procurando ajudar o homem a conhecer os seus desejos e, em especial, conhecer mais de si mesmo.

Este livro estará tratando da introdução de questões que foram sendo desenvolvidas ao longo da pesquisa psicanalítica, usando como base, as teorias de Sigmund Freud e Jaques Lacan. Os capítulos gravitam em torno do interesse sobre a gênese do humano, este entendido como um ser falante, competente em linguagem. Como aprendemos a falar, pensar, agir, a importância da intermediação e os seus efeitos na formação do sujeito. 

O homem é um ser que fala ...

Observando o comportamento dos bebês, o que eles são capazes de fazer? Uma criança de dois anos é capaz de falar com seus pais, pedir as coisas e fazer pirraça porque deseja alguma coisa que eles não podem fazer naquele exato momento.

Logo após o nosso nascimento, o que somos capazes de empreender? Como o bebê irá aprender as competências necessárias para que possa crescer e, um dia, se tornar independente dos seus pais?

Partimos do princípio que tudo o que governa a vida dos homens é decorrência da linguagem, até mesmo o que acontece em nosso corpo, propriedade das ciências médicas, não pode deixar de considerar que somos seres falantes. A linguagem produz efeito no corpo, de tal importância, que não podemos considerar um corpo que seja separado ou independente, da linguagem.

Para a Psicanálise, a linguagem é a estrutura da nossa mente, aquela que comanda todos os processos, estruturas, ações, reações, de tal modo que é a Linguagem que permite o pensamento, consciência de si e respostas motoras, como a capacidade de caminhar com ritmo e firmeza nos pés.

Para a Psicanálise falar não é apenas aprender a nomear as coisas, construir frases, capacidade de informar e transmitir uma mensagem a outra pessoa. Para este saber, a linguagem é sempre um fragmento da história de um sujeito. Freud descobriu, em suas investigações que o sujeito humano sempre falava mais do que pensava dizer.

É um grande erro de todo e qualquer saber sobre o homem, dizer que a linguagem é ferramenta. Isso passa a impressão que ela é apenas uma faculdade que o homem usa para sua vida. Não há uma máquina de filmar o mundo, capaz de imprimir memória e significados e que através do pensamento, torna-se capaz de produzir linguagem. Isso é um conceito profundamente grosseiro e ultrapassado do homem.

A linguagem é a própria estrutura. Quando dizemos que a linguagem é estrutura, dizemos que é ela que incorpora em nosso corpo, transformando-o em corpo humano, capaz de produzir nossas ações no mundo e, que todas as faculdades que são conhecidas como humanas, dependem da linguagem à sua própria existência.

Consideramos também que a linguagem é a principal característica da própria humanidade. O que nos torna humanos e diferentes de todos os outros animais? Nas condições normais de nascimento dos bebês, não podemos conceber a vida humana sem a linguagem e sabemos que os dois grandes desafios do início da vida é aprender a andar e falar as primeiras palavras.

Quais são as condições para o nascimento da linguagem? A linguagem é uma decorrência natural do processo genético humano? O bebê humano seria capaz de falar e andar sem ajuda dos semelhantes?

O homem é incapaz de falar sozinho ...

A criança é incapaz de falar sozinha, sem a ajuda dos outros que estão ao seu redor. O Homem possui capacidade de adquirir a linguagem, mas nada passaria de um potencial, caso não tivesse a ajuda de outras pessoas.

Uma das mais importantes premissas da Psicanálise revela que nascemos totalmente dependentes dos cuidados do semelhante, em especial, daqueles que constituem nossos familiares, ou responsáveis tutelares.

A linguagem é um dom que nos é uma possibilidade, desde que certas condições sejam satisfeitas. Estamos afirmando que a genética atua apenas como potencial, como possibilidade de falar. Se não houver o estímulo externo, não há qualquer fala que possa surgir sozinha.

Também estamos afirmando que um ser humano precisa estar inserido no mundo de linguagem, senão ele não é humano e, neste caso, não há genética nenhuma que tenha qualquer valor.

Sem a linguagem adquirida, a criança seria irreconhecível por todos nós, em todos os sentidos, porque não seria capaz de andar como nós andamos e, nem de perto, teria qualquer comportamento ou sentimento, que conhecemos como os de nossa espécie.

As pessoas que nascem impossibilitadas de falar aprendem outras formas de linguagem, que são capazes de humaniza-las, de modo que, enquanto falamos de linguagem, não estamos nos limitando à linguagem falada. Por outro lado, para efeitos dessa exposição, estaremos nos limitando aos bebês que puderam aprender a linguagem falada.

Até aqui vimos que o ser humano é ser proficiente em linguagem e que é através da linguagem que podemos ter um corpo capaz de produzir sensações, sentimentos, pensamentos, ações e emoções. A linguagem não surge do desabrochar do desenvolvimento genético, nem tão pouco é algo que aparece fortuitamente na vida do homem. Por outro lado, a linguagem também não é algo que adquirimos facilmente, num movimento suave, como as rosas que se abrem diante da luz.

A linguagem é uma transformação provocada, estimulada por outro ser humano. Considerando este ser humano que conhecemos, supondo que nenhuma alteração estrutural seja decorrente, podemos dizer que nunca, sob nenhuma hipótese, circunstância especial, ou mesmo desvio da norma, poderia surgir qualquer linguagem falada em um bebê, sem a presença constante de outros seres humanos falantes, em uma vida dedicada aos cuidados do bebê.

A linguagem é provocada porque outro ser humano decide que irá falar sistematicamente com o bebê, mesmo antes que ele seja capaz de dizer qualquer coisa. Seus pais irão conversar e falar sobre todas as coisas com o bebê, dando-lhe o sentido para suas necessidades também.

Não sabemos e não poderemos dizer, com precisão, que efeitos a linguagem produz na vida do bebê, antes que ele seja capaz de falar as suas primeiras palavras. Os bebês primeiro fazem vocalizações, suas palavras iniciais serão desprovidas de sentido, passará grande parte da sua infância fazendo invenções de palavras desconhecidas pelos adultos, cheias de neologismos, até que a linguagem seja capaz de seguir uma ordem convencionada por uma determinada língua e sociedade.

O que o bebê é capaz de gravar, imprimir na fase inicial de sua vida, antes do surgimento da linguagem? Que efeitos psíquicos são produzidos pela presença de seres falantes que interagem sistematicamente com o mesmo? Quais são os determinantes que conduzem o bebê a desenvolver a linguagem?

A Psicanálise propõe um saber que seja capaz de construir os caminhos lógicos da determinação dos processos e sistemas. O caminho lógico para que o infante fale é que seus pais provoquem nele a linguagem, que o bebê seja antecipado, estimulado, tenha acesso a infinitas palavras, sentidos, significados, mesmo antes de qualquer sinal de entendimento ou competência para resposta. Ele também precisa receber cuidados especiais dos seus pais, amor, carinho, brincadeiras, capazes de despertar a vontade do bebê, sua participação, agitação, demonstração de alegria, emoção, vitalidade.

Essas ações criam possibilidades, facilitações, estimulam o bebê a desejar participar de uma relação com a mãe, pai e outros familiares e semelhantes, através de gestos, gritos, choros exigindo a presença dos pais e futuramente poderá apontar para objetos, vocalizar, criar palavras, falar mamãe, papai, aprenderá seu nome próprio.

As condições que tratamos até aqui como caminhos lógicos, são vias de acesso suficientes para garantir a facilitação e o ingresso do homem na linguagem? Veremos mais adiante que são necessárias para o ingresso do bebê no mundo dos falantes, mas insuficientes para a constituição da linguagem, enquanto um sistema complexo.Aqui é onde o seu texto começa. Basta clicar e começar a escrever. Porro quisquam est qui dolorem ipsum quia dolor sit amet consectetur adipisci velit sed quia non numquam eius modi tempora incidunt ut labore et dolore magnam aliquam quaerat.

Todo bebê é insuficiente

Estado de desamparo inicial ...

Os médicos costumam dizer que os bebês pré-maturos são os que nascem antes dos nove meses, mas olhando para os filhotes de animais, que saem perambulando pelo mundo, percebemos a incompletude do início da vida humana.

Dependemos do semelhante para intermediar todas as ações e obtenção das necessidades vitais, porque não nascemos com recursos suficientes.

Supondo que a pessoa responsável pelos primeiros contatos com os filhos, geralmente é a mãe, sua importância é capital para que seja preservada não apenas a sobrevivência, mas a possibilidade de desenvolvimento das faculdades humanas.

A Psicanálise parte do princípio que a vida humana é diferente dos animais. Qualquer necessidade que tenha um animal é temporária, porque ele sabe exatamente o que buscar no mundo para resolver, de forma ampla e satisfatória. Quando outra necessidade aparece, ele também tem os padrões de comportamento necessários e suficientes, de modo a que ele está bem adaptado ao meio ambiente.

O bebê humano depende todas as coisas do seu cuidador e, antes mesmo de ser capaz de explicar qualquer uma de suas necessidades, a solução dos seus problemas é dado pela sua mãe. Com isso podemos considerar que ele pode chorar de frio e receber comida, agitar-se com fome e receber o colo e finalmente, gritar pedindo a presença de sua mãe e receber uma sopinha de neném.

Mesmo tendo necessidades biológicas para sobreviver, quando o bebê chora, ele não sabe absolutamente nada do que está acontecendo, afinal a biologia ainda está muito longe das suas possibilidades. O bebê chora sem nenhum sentido.

A necessidade de aminoácidos, carboidratos, agasalhos, presença materna, não estão escritas no choro do bebê, de modo que somos nós que inventamos absolutamente tudo, não apenas os objetos que concedemos a ele, mas os próprios significados das coisas que damos.

O ser humano infante precisa de proteção, alimento, cuidados e afeto, mas acima de tudo tem fome de palavras, sentidos, linguagem que é trazida pelos cuidadores.

Se o animal já nasce com o mapa de tudo aquilo que deve buscar e fazer dentro da sua cabeça, nós humanos, não nascemos com o mapa pronto e não somos capazes de realizar as ações específicas para obter os objetos que precisamos do mundo. Esses objetos são trazidos pelos cuidadores.

Vimos que a linguagem não é algo que se obtém facilmente. É preciso uma série de acontecimentos, relações, intermediações, estímulos nos seus devidos lugares, para que ocorra a gênese da linguagem. Falamos anteriormente que devemos pensar em condições determinantes lógicas, ou seja, nas variáveis sem as quais seria improvável pensarmos no aparecimento daquilo que estamos buscando entender.

Até aqui, tratamos de relações básicas, essenciais, fundamentais. O bebê é muito frágil, precisa de cuidados para tudo. Sozinho não poderia aprender a andar, falar, nem mesmo gostar de qualquer coisa, porque nunca poderia se direcionar a nada no mundo, sem a ajuda dos outros.

Falamos no final do capítulo passado que trabalhamos com variáveis fundamentais insuficientes e que para explicar uma entrada mais profunda do bebê no mundo humano, deveríamos ponderar ainda outros requisitos e fundamentos.

Dissemos que este ser que somos todos nós, desde o primeiro dia em que chegou neste mundo, tornar-se-á humano quando for proficiente em linguagem. Isso significa que ele precisará aprender a nomear objetos, entender o significado dos mesmos, expressar uma linguagem comum a outros semelhantes, construir abstrações, entender as ciências, por exemplo.

A condição lógica de determinação de qualquer estrutura humana, especialmente na condição da premissa que partimos sobre a Psicanálise, onde dissemos que toda a vida humana se remete à linguagem e que nosso corpo é um corpo de linguagem, tem que considerar não apenas a promoção da intermediação que é oferecida ao bebê, mas a própria atuação ou resposta do bebê a todas as relações que são oferecidas.

Uma experiência que consideramos em Psicanálise, que é divisória e fundamental para nosso saber parte do princípio que no início do desenvolvimento, o bebê ainda não aprendeu a diferenciar as coisas do mundo em relação a si mesmo. Quando um bebê já realizou a maturação do seu campo visual, sendo capaz de perceber os objetos, incluindo nesse conjunto os outros semelhantes, ele não é capaz de saber ou ter um sentimento da diferença em relação a si mesmo.

Quando colocamos vários bebês juntos, não é incomum que se um começa a chorar, os outros começarão a chorar ao mesmo tempo, como se estivessem ecoando em uma caixa de ressonância. A diferenciação de uma criança em relação às outras ou mesmo aos adultos, consiste em um processo que se desenvolve ao longo dos anos, não ocorrendo como um passe de mágica, mas de forma gradual e dependente de várias interações sociais e diferentes experiências de vida.

Veremos mais adiante que a capacidade de partir de um olhar de indiferenciação com os objetos do mundo, para um sentimento de si, percepção e sentimento do próprio corpo, são fatores chaves para a entrada na linguagem, sendo os seus primeiros passos, a capacidade de criar representações mentais de objetos com o aprendizado das primeiras palavras, nome próprio, possibilidade de ter uma relação com objetos e pessoas do mundo.

Através de observação dos bebês, verificamos que as suas primeiras experiências estão totalmente centradas na fase oral aonde observamos o chuchar, engolir e cuspir. Percebemos que o prazer oral para o bebê é uma experiência que ele procura repetir sistematicamente, sendo uma das poucas coisas que ele possui a capacidade de fazer sozinho.

Em qualquer saber sobre o psiquismo, não podemos afirmar categoricamente o que está sendo gravado antes da linguagem, mas sabemos que nossa mente é capaz de captar informações do mundo, mesmo antes de um sistema de linguagem razoavelmente constituído. Supomos que a nossa mente é capaz de criar traços dos objetos que experimentamos do mundo. O bebê tem uma vivência do mundo condicionada aos eventos que chegam até ele, seja através do que observa sozinho, ou mesmo pelos objetos apresentados pelos seus pais que fornecem, na maior parte do tempo, a própria ordem de estímulos, sejam corporais, objetos dados à criança, ou mesmo aproximação das pessoas da família e amigos.

O mundo da criança é estático, dependente desses contatos dos quais ela pode apenas chorar para pedir ajuda. Partimos também do pressuposto que o bebê é capaz de criar imagens mentais rudimentares do que deseja, mas sem a linguagem, são insuficientes para alcançar seus desejos.

A criança olha para fora e percebe o mundo, conforme ele se apresenta, mas não pode resgatar esse mundo como uma representação mental estável. Quando o cenário muda, sua percepção irá acompanhar o ambiente anterior como se ele tivesse passado em branco. Ela não possui noção de unidade corporal, sentimento de si mesma, sua vida é estimulada por terceiros e sua independência limita-se a produzir alucinações ou imagens rudimentares dos objetos que deseja repetir, em especial o seio e a presença da mãe.

Neste primeiro modelo de desenvolvimento, a criança irá representar os objetos que proporcionaram prazer e desprazer, produzindo impressões dos mesmos.  

Quer saber mais?

A cada dia incluiremos um novo capítulo ..

à seguir .... A folha em branco tem que ser escrita....

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